The Manfatuation – Portuguese translation

A Homopaixão — uma cena bônus de “A Dama Da Meia-Noite”

Tessa Dare
Tradução: Suelen Mattos

Esta é uma cena bônus bastante boba de “A Dama da Meia-Noite” (Spindle Cove 3), que eu escrevi como recompensa depois do meu livro vencer uma rodada num concurso de leitores. Um bônus das margens de A Dama da Meia-Noite, onde Colin ensina Thorne a valsar. Eu me diverti demais escrevendo isso. Vou admitir livremente: grande parte do diálogo carece de uma certa… exatidão histórica.

Aviso ao leitor: Profanação à frente.

— Primeiro, vamos deixar uma coisa clara. — Colin Sandhurst, Lorde Payne, bateu com a mão em seu peito. — Você veio até mim, Thorne. Então reconheça as habilidades. E pare de fazer cara feia.

— Eu não estou fazendo cara feia.

— Não? — Colin inclinou a cabeça, examinando. — Acho que é só o seu rosto. Que infelicidade.

Samuel Thorne soltou a respiração num suspiro longo e sofrido.

Ele deveria saber que aquela era uma má ideia. Não era como se ele e Lorde Payne fossem amigos. Durante o ano em que ambos haviam morado em Spindle Cove não houvera nenhum amor perdido entre eles. Haviam criticado um ao outro, discordado a cada instante. Colin era um visconde, e um falador, esbanjador e devasso, isso sim. Thorne veio do nada, falava pouco e, no presente momento, desejava estar em qualquer lugar, menos ali.

Mas ele não tinha escolha. O baile aconteceria dali a poucos dias, e seria a única chance de Thorne provar ser digno de sua Katie. Ele não era um cavalheiro de nascimento, mas precisava se parecer, comportar — e dançar — o mais perto disso que conseguisse.

Colin bateu as mãos.

— Já que só temos um dia, e estamos partindo do nada, vou sugerir a valsa. Não há como errar com uma valsa. É bem conhecida, é romântica, é fácil de aprender.

Tudo aquilo soava bem para Thorne.

— Pegue minha mão na sua — Colin levantou uma mão até a altura dos ombros — e deslize seu outro braço em volta da minha cintura, colocando sua palma diretamente entre minhas omoplatas.

— Você não está falando sério.

— Claro que estou falando sério. De que outra forma você vai aprender, a não ser fazendo? Eu farei a parte da dama, é claro. Ao contrário de você, estou suficientemente seguro com a minha masculinidade.

Thorne limpou a garganta, pegando a mão de Colin.

— Minha masculinidade está segura. Muito segura.

— Então aprenda a liderar. — Colin demonstrou o passo, lentamente. — Avance com o pé esquerdo. Pé direito para o lado. Pés juntos. Um… Dois… Três. E agora a mesma coisa, só que com o pé direito atrás. Isso não deve ser muito difícil para você. Está acostumado com toda aquela marcha do exército.

Verdade. Mas as batidas da marcha vinham em grupos de quatro, não de três. Este novo ritmo dava a Thorne a sensação de que suas botas estavam nos pés errados. Ele tentou se concentrar.

Um… Dois… Três. Um… Dois… Três.

— É isso aí, — disse Colin. — Você está pegando o ritmo. — Ele pressionou os lábios e cantarolou uma melodia alegre e animada.

— Pelo amor de… — Thorne deu um passo para trás, interrompendo a dança. — Você tem que zunir?

— Não, eu não tenho que zunir. Eu poderia fazer tra-la-la. Ou você poderia zunir. Ou fazer tra-la-la, se pref…

— Sem nenhuma maldita chance.

— O negócio é o seguinte, Thorne. É uma dança. Devemos ter alguma música. Haverá música no baile.
Thorne passeou num círculo lento antes de voltar a tentar novamente. Braços rígidos. Mão entre as omoplatas da parceira. — Vá em frente com isso, então.

— Escute — disse Payne, ficando irritado. — Para essa aula de dança funcionar, você terá que parar de lutar comigo. Sei que temos mantido esta briguinha divertida por anos. Mas ela floresceu em algo mais.

Floresceu? — Thorne mal conseguia arrancar a palavra.

— Sim, floresceu. Em acontecimentos, em vida. Com o tempo, todos os tipos de coisas encantadoras florescem. Flores, amizades…

Contusões.

— Admita. — Um sorriso malicioso se espalhou pelo rosto de Payne. — Você gosta de mim.

Thorne não admitiu nada.

— Você nem sempre gostou, mas agora gosta de mim. Você realmente gosta de mim. Nós temos este… este romance fraternal. Não, não. Romance é a palavra errada. O que você sente por mim é… Ah, já sei. — Ele estalou os dedos. — Uma homopaixão.

— Homopai… o quê?

— Homopaixão. Uma paixão masculina. Você está tomado por uma furiosa homopaixão.

Ah, Thorne estava tomado por algo, com certeza.

Colin encolheu os ombros, indiferente.

— É você que está com o braço na minha cintura. Apenas fazendo uma observação, só isso.

Thorne suspirou. Ele não tinha tempo para jogar os jogos idiotas de Payne. Só tinha esse único dia para aprender essa única dança. Na esperança de uma vida com a única pessoa que já amara.

Ele fechou os olhos e pensou na Srta. Taylor. Kate. Sua Katie.

Então apertou os braços e girou Colin na valsa.

— Isso foi bom, Thorne. Esse movimento assumindo-o-controle-com-força-bruta? Tem um toque de homem das cavernas, mas funciona com você. Não me importo de admitir que até eu senti um pequeno arrepio.

— Apenas cale a boca e dance.

— O rosnado também não é ruim. Mas você não deveria querer que eu ficasse calado. Nós deveríamos conversar. Você precisa aprender a dançar e conversar ao mesmo tempo.

Ao mesmo tempo? Thorne mal conversava parado.

— Eu sei, eu sei. Você construiu uma carreira como Cabo Zangado McTaciturno. O homem, o mito, a lenda. Mas se quiser pedir a mão da senhorita Taylor, você terá que cortejá-la com algumas palavras. Não necessariamente um grande número de palavras. Na verdade, tudo o que você precisa são de três. Apenas diga a ela que a ama.

Diga a ela que a ama.

O mero pensamento fez as entranhas de Thorne se apertarem. Amor? Ele mal fazia ideia do que essa palavra significava. Crescera como o filho indesejado de uma prostituta, depois passara anos na prisão como um ladrão condenado. Ele nunca havia falado palavras de amor a ninguém. As poucas vezes que as ouviu nos lábios de Katie, tentou espantá-las como se fossem moscas.

Mas, naquele ponto, ele sabia que Colin estava certo. Katie gostaria de ouvir as palavras vindas dele. Ela merecia ouvir aquelas palavras. Esse era o objetivo de toda essa viagem a Londres — o novo traje, a patente de capitão, o anel. Ele queria fornecer tudo o que ela precisava. Um lar, uma família, um futuro seguro.

E amor.

Ele queria — mais do que qualquer coisa — encontrar amor em si mesmo para dar isso a ela também.

— Pense nisso — disse Colin. — A valsa é perfeita para confissões de amor. Três passos na dança. Três palavrinhas. Você pode trabalhar nisso. Fale sobre amar outras coisas. Vá com calma, aos poucos. — Ele falou no tempo da valsa. — Um… Dois… Três. Eu… amo… bolo.

— Eu não amo bolo. Não dou a mínima pra ele.

Colin revirou os olhos.

— Ótimo. Nada de bolo. Preencha com outra coisa, então. Continue.

Com a próxima volta de três passos, ele rangeu:

— Eu… odeio… isso.

— Vamos — insistiu Colin. — Você tem que superar seu medo dessa palavra. Comece com coisas masculinas, se for mais fácil. Eu… amo… cerveja. Eu… amo… tetas. Eu… amo… bacon. Logo você entrará direto no cerne da questão. Eu… amo… você.

A porta se abriu.

— Colin, o comerciante de vinho está aqui, e ele está perguntando a Sra. Potter sobre o…
Thorne e Colin congelaram no centro da sala, envolvidos nos braços um do outro. Aquele eco ressoou pela sala: “Eu amo você.”

Lady Payne ficou de queixo caído, em pé na entrada da porta:

— Ai, meu Deus!

Uma frase diferente de três palavras veio à mente de Thorne: puta que pariu.

— Eu não vi nada — disse Lady Payne, abruptamente. Atrapalhada, ela afastou os óculos do rosto e remexeu neles. — Não consigo ver nada, de verdade. Eles estão completamente nublados com poeira. Falei a Colin que preciso de lentes novas. Não te disse isso, Colin?

— Você disse, — ele concordou. Ele confirmou com a cabeça para Thorne. — Ela disse.

— Não vi nada. Nada. — Ela saiu da sala do jeito que havia entrado, tropeçando no batente da porta em sua pressa de partir. Thorne ouviu-a choramingar de novo: “Ai, meu Deus”.

— Bem, isso foi estranho — disse Colin. — Terei que fazer algumas explicações criativas mais tarde.

— De algum jeito, não creio que achará isso muito difícil. Explicações criativas sendo sua especialidade. — Thorne deu um passo para trás e esfregou o rosto com a mão, xingando baixinho.

— Bem? — Colin perguntou. — Terminamos, então? Homopaixão ou não, talvez você tenha decidido que isso simplesmente não vale a pena.

— Ainda não terminamos.

Thorne estendeu os braços com uma sacudida e tomou Colin em seus braços. Mais uma vez. Um… Dois… Três.

Porque sua Katie valia a pena.

Ela valia qualquer coisa. Anos de prisão, fome, sofrimento.

E sim… até mesmo isso.

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Tradução: Suelen Mattos